Segunda-feira, 21 de Março de 2005
Os partidários da conservação de consoantes mudas em palavras como factura ou baptismo dizem que elas fazem falta para abrir a vogal anterior. Tracção e acção, por exemplo, necessitam, segundo tais pessoas, do primeiro cê para se pronunciaram tràção e àção. Se é assim, por que razão inflação, com a pronúncia inflàção, só tem um cê?
Tracção e acção derivam das palavras latinas actione e tractione, respectivamente. Por sua vez, inflação vem do latim inflatione. Por aqui se vê que o cê mudo de acção e tracção não se justifica somente por questões de pronúncia mas também por motivos da etimologia das palavras, isto é a sua origem noutras línguas. Ora acontece que há muito a ortografia da língua portuguesa deixou de seguir rigorosamente a etimologia; é por isso que há muito escrevemos produto apesar de provir do latim productu.
Se inflação se escreve só com um cê, não há grandes razões para que acção ou tracção precisem de dois.
Temem alguns que da eliminação de cês e pês mudos resulte o enfraquecimento das vogais colocadas antes. Já vimos que as catástrofes que se poderiam esperar de alterações anteriores não se verificaram e não há razão para se supor que o contrário aconteça no futuro. Por outro lado, se uma vogal tiver que emudecer, não é um cê ou pê que não se lê colocado antes que vai evitar esse emudecimento. Por exemplo, em actual, tactear e exactidão o cê não evitou o emudecimento do a anterior. Por outro lado, em palavras como corar ou padeiro existe um vogal aberta sem necessidade de escolta dum cê ou dum pê mudo.
Os amantes das consoantes mudas não se sentirão um tanto incomodados ao escreverem actual. Como é que justificam o cê?
Os argumentos contra a eliminação de consoantes mudas ou contra o acordo ortográfico em geral são fáceis de desmontar com um pouco de informação e uma cabeça para pensar.