Terça-feira, 10 de Janeiro de 2006

Hífen (2)

Relativamente ao hífen o acordo ortográfico estabelece regras numerosas e extensas, algumas escritas em linguagem difícel de entender. Vamos dar essas regras, não necessariamente pela ordem em que são apresentadas no texto do acordo e em linguagem o mais simples possível.

Uma das regras é que não se usará empregará o hífen nas ligações da preposição “de” às formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo “haver”. Por outras palavras em vez de “hei-de”, “hás-de”, “há-de”,“hão-de” passaremos a escrever “hei de”, “hás de”, “há de”,“hão de”.

No hino nacional português há um hífen que desaparece. Recordemos estes versos: “Entre as brumas da memória,/Ó Pátria, sente-se a voz/Dos teus egrégios avós /Que há-de guiar-te à vitória!” darão lugar a “Entre as brumas da memória,/Ó Pátria, sente-se a voz/Dos teus egrégios avós/Que há de guiar-te à vitória!” . No último verso há um “há-de”. Ocorre uma separação e ficamos com “há de”. Não é por isso que os avós deixam de ser egrégios nem a vitória se torna mais difícil ou menos certa, mas os conservadores linguísticos ficarão desgostosos.

Esta regra é capaz de indispor muita gente, mas examinemos a questão fria e racionalmente. Reparemos nas duas frases seguintes, escrita na actual ortografia portuguesa: “ele há-de tudo fazer” e “aqui há de tudo para vender”. Na pronúncia destas frases o primeiro “hᔠestá mais ligado à preposição “de” que o segundo?A resposta é não e, por consequência, o hífen da primeira frase não se justifica, como não se justificaria escrever “havemos-de”.

Reparemos na frase “hei-de ler”. A pronúncia está mais perto de “hei d’ ler” do que de “heide ler”. Se tivesse que haver um hífen na frase, seria mais lógico ele ligar “de” a “ler”, escrevendo-se “hei de-ler”. Esta ligação mais forte à palavra colocada depois da preposição “de” é apontada na nota explicativa do acordo como uma razão para abolir o hífen nas palavras indicadas.

No Brasil já não se usa o hífen nas palavras apontadas, mas não é só por isso que se justifica a sua eliminação. Ele não tem qualquer utilidade ou justificação. É muito bem abolido.

Fiquemos por aqui. As regras do hífen têm de ser fornecidas em doses pequenas para não causarem indigestão.


João Manuel Maia Alves
publicado por João Manuel Maia Alves às 10:05
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